31 de março de 2007

Relação homem x animal

Homem x animal
Por Ana Maya Goto Uyehara Pesquisadora Mentora

As evidências mais antigas da amizade entre o homem e os cães datam de 12 mil anos antes de Cristo, em que ossos de homens e cães aparecem na mesma tumba. A interação homem-animal tem sido abordada pela sociologia, psicologia, antropologia, medicina veterinária e outras ciências. Para Fuchs (apud Bellinghini, 2003:C5), tudo pode ter começado com um lobinho mais manso que os demais e com a percepção de que eles podiam dar sinais de alarme e, principalmente, ajudar nas caçadas:
Os filhotes de lobos e cães são criados em família, com a mãe e os irmãos. Quando tirados de perto deles, vão procurar esse calor e aconchego com seres humanos, que passam a ser sua nova figura de apego.
Mas também pode ter começado por outras duas razões: frio e fome. Para se livrar do frio, o homem das cavernas dormia com o cão e, como retribuição, dava-lhe restos de comida. Com isso, livrava-se também do lixo. Na mitologia grega, acredita-se que a alma do cão acompanha seu dono até a eternidade. Isso talvez justifique a crença popular de que “cada cachorro espelha a personalidade de seu dono”.

Segundo Berzins (2000:55), estudos apontam para a relação homem-animal na pré-história. Foram encontrados sítios arqueológicos dessa época em que o animal doméstico era enterrado em posição de destaque ao lado do seu provável dono. Mas a grande mudança deu-se a partir dos tempos modernos, com a criação de cães para a função principal de guarda da propriedade, de tração de carroças e trenós, ou utilidade para acompanhar tropeiros, agricultores, além da condição de estimação.

Havia uma distinção social entre os cães imposta pelos homens e, no século XVIII, o cão já era conhecido como “o mais inteligente de todos os quadrúpedes conhecidos” e louvado como “o servo mais fidedigno e a companhia mais humilde do homem” (Berzins, 2000:57).

Benefícios da relação homem/animal

Ter um bicho de estimação pode não ser apenas uma questão de lazer ou de companhia. A medicina está descobrindo que eles também podem ser benéficos para a saúde humana. Estudos do American Journal of Cardiology mostram que pessoas, ao interagirem com animais, constantemente tendem a apresentar níveis controlados de estresse e de pressão arterial, além de estarem menos propensas a desenvolver problemas cardíacos (Vicária, 2003:91). Em termos psicológicos, os cães, através de sua pureza e espontaneidade instintiva, resgatam a criança interior da pessoa e aumentam a capacidade de amar da mesma, conforme aponta Kassis (2002:24-25).

Berzins (2000:61) observa que estudos efetuados nos Estados Unidos e na Europa apontam para uma redução do tempo de recuperação das doenças e uma maior sobrevida aos indivíduos que possuem animais de estimação e que foram acometidos por cardiopatia isquêmica. Percebe-se que, nessas situações, a presença do animal resultou na redução da ansiedade, diminuição de depressão, uma vez que os animais incentivam a atividade física, tanto para levá-los aos passeios como para a realização dos cuidados diários.

Interessante notar que, durante a internação, os pacientes demonstram desejos de melhorar rapidamente para cuidar de seus animais. Conclui-se então que os animais podem atuar como suporte emocional, representando um apoio para confiar e falar. Em outras palavras, como o animal não fala, ele passa a ser cúmplice do que os outros lhe contam (Berzins, 2000:63).
Em se tratando de cães, essa interação é favorecida, sobretudo, quando eles são utilizados nas terapias para equilibrar emoções, conforme aponta Fenuccio (apud Vicaria, 2003:91) que venceu a depressão com a ajuda de um vira-lata de 04 anos: “ele é ótimo, entende que às vezes não estou bem e nem por isso me abandona”.

Estudos desenvolvidos na área de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Botucatu, evidenciam que o contato com animais melhora os batimentos cardíacos dos idosos, além do estímulo emocional resultante da troca de carinhos.
Berzins (2000:64) também cita algumas vantagens resultantes do convívio com animal de estimação, elencados pr Fuchs (1987), como:
- alívio para situação tensa;
- disponibilidade ininterrupta de afeto;
- faz a pessoa rir;
- representa companhia constante;
- dá amizade incondicional;
- proporciona contato físico;
- dá proteção e segurança;
- a presença do animal faz a pessoa ter o que fazer.
Ressalta-se, contudo, que a relação homem-animal não deve substituir a relação homem-homem. O cão não pode substituir um filho ou marido, mas pode ensinar como agir em nossos relacionamentos (Kassis, 2002:25).

Convívio idoso x cão

Berzins relata em sua pesquisa que iniciou seu contato com idosos a partir das queixas dos médicos veterinários quanto à dificuldade de lidar com idosos que insistiam em infringir a lei, mantendo mais de 10 animais domésticos em suas residências. Ela cita alguns exemplos dos encaminhamentos feitos para o Serviço Social, setor onde trabalhava na Prefeitura de São Paulo, como segue (2000:16):
Trata-se de pessoa idosa que se descontrola facilmente. Sugiro que a assistente social tente diálogo com a intimada; Encaminhamos o presente expediente, sendo que a proprietária dos animais é idosa e de difícil trato, e o problema com falta de higiene na criação de cães e gatos vem causando incômodo aos demais moradores; Sugiro que a assistente social vá ao local fazer uma visita devido ao fato da intimada ser idosa; Trata-se de uma pessoa doente, idosa e difícil de se conversar.
Buscando compreender a relação que se estabelece entre o idoso e o animal doméstico, que, no caso, não significa animal de estimação pela intensidade da relação que os idosos mantêm com todos os seus animais, Berzins (2000:18), ao pesquisar os casos de idosos que possuem mais de 10 animais e em alguns casos até mais de 50, percebe que “com cada um dos animais são estabelecidas relações únicas, singulares e permeadas de profundo significado”. Observou, então, que o animal pode representar a compensação para o “ninho vazio”, a vida sem sentido, falta de convívio com os familiares, “aqueles idosos não tinham outra razão de viver, senão os animais”, “não há pessoas em suas vidas, somente animais”.

Terapias Assistidas com Animais (TAA)

Um dos benefícios proporcionados pela relação homem/animal é a Terapia Assistida com Animais (TAA), que consiste em trabalhos desenvolvidos pela ONG Projeto Cão-Idoso e cujo idealizador é Jerson Dotti. A TAA trabalha no sentido de tentar reabilitar ou motivar idosos asilados através de visitas programadas de voluntários com os seus cães, visando o estímulo a diversos tratamentos e sessões de fisioterapia assistidas por profissionais da área de saúde.

As iniciativas de TAA consistem de visitas programadas com animais devidamente treinados para o contato com pessoas estranhas – as idosas. Esse contato normalmente desemboca em situações estimulantes, nas quais o idoso desenvolve uma série de atividades físicas antes prejudicadas por falta de interesse em realizá-las. Além da motivação para fazer exercícios, o contato com os cães aumenta a auto-estima dos idosos institucionalizados, tendo em vista que sua rotina é quebrada (não se sentem mais sozinhos pela presença do cão e do voluntário do projeto de TAA) pela possibilidade de fazer novos amigos. Através de depoimentos de voluntários do Projeto Cão-Idoso, percebe-se que os idosos ficam ativos e receptivos durante e depois das visitas de TAA, devido ao caráter de entretenimento e possibilidade de distração que vêm quebrar o cotidiano do idoso asilado.

Relatos indicam também que através das TAAs os idosos são encorajados a viver aquele momento de interação com o cão além de praticar exercícios leves que utilizam mãos e braços, incentivados a se mover e a fazer movimentos que antes pareciam impossíveis de conseguir. Acredita-se que isso se deve ao fato de os cães, devidamente treinados e com características natas (tais como calma e tolerância), interagirem oferecendo amor às pessoas que os cercam, não distingüindo os indivíduos em termos de raça, faixa etária, estética, condição sócio-econômica e outros. Os cães aceitam as pessoas como elas são e isso permite uma interação muito rica entre ambos.
Portanto, a relação de idosos com cães pode proporcionar um estímulo para que os velhos tornem o seu tempo útil e continuem povoando suas vidas de novas descobertas. A TAA representa uma oportunidade inovadora para os idosos manterem contato com outros seres viventes – como é o caso dos cães, que, apesar de não falarem, transmitem muito amor e carinho em uma relação em que não marginaliza (o cão aceita o ser humano como ele é, sem considerar idade, sexo, cor, poder aquisitivo) e é cheia de significados. O contato com voluntários que levam os seus cães para junto dos idosos também é primordial.

Referências
BERZINS, Marilia A. V. da Silva. Velhos, cães e gatos: interpretação de uma relação. São Paulo: PUC-SP, 2000. Dissertação de Mestrado em Gerontologia.
FUCHS, Hannelore. O animal em casa: um estudo no sentido de desvelar o significado psicológico do animal de estimação. São Paulo: USP, 1987. Tese de doutorado (Psicologia experimental). Faculdade de Psicologia.
KASSIS, Amélia. “O amor que fica”. Revista Kalunga. No. 139. Ano XXX. Agosto de 2002. (pg. 24-25)
VICARIA, Luciana. “A cura pelo bicho”. Revista Época. 04 de agosto de 2003 (pg. 83-91)
______. Abandono premeditado. Revista da Folha. Ano 13. Número 624. São Paulo: Jornal Folha de S. Paulo, 13/06/2004. (pg. 08-11).


Projeto Cão-Idoso. www.projetocao.com.br
Data: 25/08/2004

4 de março de 2007

Confirmado: gatos também têm Alzheimer






Não é de hoje que se desconfiava que gatos idosos podem sofrer de uma demência senil muito semelhante ao mal de Alzheimer que acomete seres humanos. Alguns gatos começam a agir estranhamente, com a idade, zanzando pela casa como se estivessem perdidos, miando dolorosamente. A dissecação de cérebros de bichanos velhos já havia também detectado a presença de placas muito similares às que atrapalham a propagação de sinais nervosos na cachola de alguns dos nossos velhinhos, mas não havia certeza de tratar-se do mesmo tipo de enfermidade.
Agora não parece mais haver muita dúvida, segundo pesquisa de um grupo das universidades de Edimburgo, St. Andrews, Bristol e Califórnia. Eles foram capazes de identificar a presença da proteína que forma os emaranhados resultantes nas placas característica de Alzheimer (neste caso, "Catzheimer", como já foi apelidada).
"Esta proteína recém-descoberta é crucial para nossa compreensão do processo de envelhecimento em gatos", disse num comunicado da Universidade de Edimburgo a pesquisadora-líder Danielle Gunn-Moore. "Sabíamos há muito que gatos desenvolve demência, mas este estudo nos diz que o sistema nervoso do gato está sendo comprometido de maneira similar à que vemos nos portadores do mal de Alzheimer humano. As placas porosas apenas indicavam que esse poderia ser o caso - mas agora nós temos certeza." Seu estudo foi publicado na edição de agosto do periódico Journal of Feline Medicine and Surgery, mas se tornou de conhecimento público agora.
Segundo o grupo, a expectativa de vida dos gatos está aumentando, assim como a dos seres humanos que os domesticaram. Há pesquisas indicando que 28% dos felinos entre 11 e 14 anos de idade apresentam pelo menos alguma alteração comportamental relacionada com a velhice. Acima dos 15 anos, a proporção ultrapassa 50%.
Não há muito o que fazer, contudo, em matéria de tratamento. Também para os gatos, só se pode recomendar a manutenção da atividade. "Se os seres humanos e seus gatos vivem em um ambiente empobrecido, com pouca companhia e estimulação, ambos correm um risco mais alto de demência", explica Gunn-Moore. "No entanto, se o dono brinca com o gato, isso é bom tanto para o humano quanto para o animal. Uma boa dieta, enriquecida com antioxidantes, também é útil na prevenção da demência, de modo que o proprietário de gato que partilha com seu mascote refeições saudáveis, como frango e peixe, estará beneficiando ambos."
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