16 de junho de 2007

OS ANIMAIS SÃO SERES OU COISAS?


OS ANIMAIS SÃO SERES OU COISAS?
                                                Wilson Grassi

Neste momento não vamos falar de outros animais que não os cães, para não perder o foco de discussão que é a referida lei que proíbe cirurgias estéticas de mutilação nos animais domésticos na cidade de São Paulo.

Qual é a origem do nosso direito de propriedade sobre eles? Eu sinceramente não gosto do termo posse responsável, pois posse é mais comumente ligado a propriedade. Creio que o termo tutela é mais apropriado, pois tutelar significa proteger quem é incapaz. Na natureza não precisamos tutelar os animais, mas aqueles que domesticamos, normalmente dependem de nós para sobreviver. Agora, voltando ao foco, somos donos de um cão, do mesmo modo que somos donos de um carro ou de uma casa, ou somos apenas responsáveis pelo seu bem estar? No caso das cirurgias estéticas, não discuto a questão da dor ou do sofrimento, pois sei como veterinário, que, se um procedimento cirúrgico for bem executado e medicado (o que nem sempre acontece e nem sempre é feito por veterinários), pode ter seu nível de dor bastante reduzido, mas a questão não é essa. 

A questão é: temos realmente o direito de submeter animais sencientes, ou seja, sensíveis e conscientes, a amputações, para satisfazer nossos discutíveis desejos de estética? Podemos permitir também a procriação e o comércio indiscriminados de cães, sabendo que boa parte deles vai acabar vagando nas ruas, condenado ao frio, fome, doenças e atropelamentos? Novamente a pergunta: os animais são seres ou coisas? Devem ter seus interesses levados em conta ou não? Qual característica está presente em qualquer ser humano, criança, idoso, incapaz, que nos torna dignos de consideração, e que não está presente nos animais superiores? Podemos realmente fazer o que quisermos com eles, levando em conta apenas nossos interesses, ou os interesses deles também devem ser considerados?

Embora muitos países europeus não sejam referência em consideração aos animais de forma geral, ao menos boa parte deles já proíbe as cirurgias de mutilação estéticas. Entendo como inevitável dentro de alguns anos que o mesmo ocorra por aqui. Aprovar a lei agora é apenas por em prática algo justo e que cedo ou tarde acabaria por prevalecer. 
Wilson Grassi é médico veterinário, diretor de Bem-estar Animal da Anclivepa-SP. Email: wwgrassi@yahoo.com.br.

http://www.sentiens.net/top/PA_ART_wilsongrassi_0012_top.html

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