26 de janeiro de 2011

Mondo cane - Michel Blanco

Por Michel Blanco . 25.01.11 - 20h44

 

Mondo cane

 

Um cachorro se deita ao lado da cova rasa de uma das mais de 800 vítimas das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Mal sabia que o descanso inadvertido em campo-santo comoveria o país. Fotografado e confundido com outro vira-lata, foi alçado à condição de herói pela imprensa. Nem os cães estão a salvo de um instante paparazzi.

Antes de se provar uma tremenda “barriga”, a história de Caramelo e seu sósia rendeu horas de trabalho jornalístico na busca por um fato novo em meio à contagem de corpos da tragédia. Ao fim, confirmou-se uma ligação entre bichos e os casos mais célebres de deslizes da mídia brasileira.

Não que os vira-latas sejam indignos de nota. São companheiros fiéis, ora. O verdadeiro Caramelo foi encontrado por bombeiros quando escavava a terra que soterrou seus quatro donos. Acabou indicando o paradeiro dos corpos aos homens do resgate. O outro, primeiramente batizado Leão e depois Joe, acompanhava o dono que se voluntariou para ajudar a sepultar os mortos.

Mas a atenção exagerada aos cães desabrigados pela tragédia cobra uma reflexão — e não apenas nas redações. Somente dias depois de incessante material sobre o perrengue canino fomos informados que quase três mil crianças estavam sem casa só em Teresópolis. A cachorrada chegou antes à condição de vítima, sinal do valor dado à infância. Impossível não lembrar do fino Rock da Cachorra, de Léo Jaime:

“Troque seu cachorro por uma criança pobre”.
A empatia provocada pelos bichos é fartamente explorada pela imprensa. Não à toa. Somos cada vez mais ridículos no trato com animais de estimação, elevados à condição de filho mimado.  Humanizamos a relação com os bichos ao mesmo tempo que é lugar comum da vida urbana queixar-se da deterioração de relações interpessoais. Culpa do comportamento animalesco de alguns, alguém pode dizer. Afinal, nem todo mundo é fofo.

Buscamos nos cachorros aquilo que parecemos ser incapazes de oferecer: amor incondicional. Merecem todo afago, pois só mesmo cachorro para nos aguentar. A humanização dos cães pode ser útil, se aprendermos algo com eles.

Fonte:


Minha resposta ao jornalista  Michel Blanco:

Caro Michel, outro dia fui entrevistada por uma jornalista local, onde ela falava uma série de coisas a meu respeito ao qual me deixou bastante constrangida e  só pude responder para ela o seguinte: Você está me colocando como “heroína”, mas a meu ver está equivocada o que fiz (por um gato surrado) devia ser visto como algo natural, e devia ser entrevistado, ir à TV e ter destaque quem não o fizesse, ao ver um animal, uma criança, um adulto abandonado.

 Invertemos tudo, no mundo ganha destaque quem supostamente faz o que é sua obrigação como cidadão de um Planeta que o recebe, lhe dando tudo de graça, sol, água, ar enfim a vida. Claro que inicialmente recebemos todas  essas benesses gratuitamente, mas o ser humano em sua ganância deu um jeito de cobrar tudo, até mesmo a consciência das pessoas, você diz: “Mas a atenção exagerada aos cães desabrigados pela tragédia”. Atenção exagerada? Infelizmente não vi atenção alguma especial, apenas o caso do Caramelo virou noticia, mas os demais animais, se não fosse os abnegados protetores, muitos anônimos em sua missão em salvar vidas, muitos ainda estariam lá famintos, doentes e mortos.

Toda vida precisa de ajuda, para mim não importa quem precise da ajuda, seja um cão, um gato, um pássaro, a pergunta que faço sempre é: a dor deles é menor que a nossa? Essa é a questão crucial. E não me venham com a frase chavão: Com tanta criança abandonada e você cuidando de animais. Em toda minha vida NUNCA encontrei uma pessoa que dissesse isso que cuidasse de uma criança. A verdade é quem muito critica nada faz por sua suposta indignação. Ainda bem que há pessoas para cuidar de crianças, idosos, doentes e animais. Isso indica que este “mundo” não está de todo perdido.
Amor e Luz
Marlene (Amara Antara)


7 comentários:

Cristina Altheia Bortoli disse...

Ah, que belíssima resposta, direta, objetiva, verdadeira... tão indispensável e necessária. Ouvi tantas frases descartáveis, por causa do meu amor por animais e por gastar com exames e tratamento para meu gato, que sofre de problemas renais. Como se isso fosse um absurdo ou um desperdício de dinheiro, afinal "é apenas um gato".

Quando era voluntária no Abrigo São Francisco de Assis, ouvi muitos comentários: Por que "perdia" meus finais de semana" indo tão longe, porque não "dedicava" meu tempo às crianças e idosos?

Monica disse...

Belíssima resposta mesmo a coluna desse jornalista foi infeliz.

Espero que ele reflita sobre o que escreveu porque nesse momento comparecer qualquer vida que seja não vale a pena.
Parabéns pela resposta.

Marlene (Amara Antara) disse...

Olá Cristina, também tem um gato idoso que está muito doente, agora está estável, faz mais de 1 ano que o alimento 2 a 3 vezes ao dia, além dos tratamentos que como você sabe não são baratos. Agora ele está tratando com homeopatia que também o cara essa especialidade, mas para mim eles são prioridade, antes eles depois eu. Conheça meus companheiros de jornada no blog deles : http://gatosamaraantara.blogspot.com
Lá tem todo processo que o Juca está passando e também tem a história de cada um deles contada por eles mesmo.
Amor e Luz
Marlene

Marlene (Amara Antara) disse...

Olá Monica, estamos cansadas de "ouvir" a mesma história né? sabe não creio que ele tenha sido exatamente infeliz, mas é essa a visão da maioria das pessoas, ele apenas escreveu o que acredita. Uma pena que um formador de opinião diga essas besteiras, e o pior é que a massa acompanha e aplaude.

Sempre Pelos Animais. Sempre pela Vida.
Amor e Luz
Marlene

Visite o Blog dos meus companheiros de jornada.

http://gatosamaraantara.blogspot.com/

Elaine Figueira disse...

Adorei sua resposta, também dei a minha sempre educada, pois acredito n educação e elegância para tratar de coisas assim.

Abraços,

Elaine

Marlene (Amara Antara) disse...

Oi Elaine, isso aí, vamos nos unindo e mostrando para essa gente que só enxerga o próprio umbigo que eles não tem voz, portanto, somos a "voz" deles.
Amor e Luz

Elaine Figueira disse...

Olá a todos. Tenho certeza disso: eles não falam por si. Eu falo por eles.

Bençãos da Senhora dos Animais,

Elaine